Luciana Dias
por Antonio Trigo*
Há certa dificuldade em descrever um personagem tão único – e raro – quanto Luciana Dias. Se o tipo físico entrega que ela é brasileira, ou curitibana, para dar exatidão ao local de seu nascimento, o termo "cidadã do mundo" lhe cai como uma luva.
Quem dirá aonde essa garota – sim, a alma é de menina – que já morou em Salvador, Chapada Diamantina, Londres, São Paulo, Rio de Janeiro, João Pessoa e Firenze estará amanhã. Em casa mesmo, talvez só se sinta em Pipa, um dos poucos lugares onde jura, consegue se desconectar.
A ascendência mostra que a família tem poetas, políticos, empresários e músicos. O que naturalmente lhe daria a autenticidade de quem cresceu contextualizada, entre livros, viagens e arte. Ela estudou fotografia, e como contraponto, quem diria, já tomou aulas de balé. Mas os pezinhos exigentes ganharam bagagem quando foi além da dança renascentista, e descobriu 19 países e todo esse multiculturalismo chamado Brasil. Tendo esses pontos explicados, podemos então olhar outrora, e tentar resumir uma carreira marcada de escolhas inusitadas, um talento nato à comunicação e outros papéis que sempre desempenhou com paixão.
A infância foi feliz, com todos os motes de quem teve a liberdade de escolha como opção. Fato é que ainda debutante não pediu um baile, mas começou a trabalhar escondido dos pais. Precocemente, fez até exposições, com obras selecionadas para mostras relevantes. Quando a faculdade de Comunicação Social engatinhava (sem a distinção entre publicidade e jornalismo) a cursou. E desde então, sempre foi bipolar, no bom sentido. Afinal, é pauteira e marketeira. Tem conteúdo e visão ampla.
O olhar apurado, muitas vezes incompreendido e natural à humanos da contracultura a levaram muito cedo para a Paraíba, onde aos 19 anos ganhou seu primeiro programa televiso na TV Tambaú. Uma revista cultural inovadora para os padrões daquela época. Em paralelo também trabalhava numa agência de propaganda, a Mozart, em João pessoa. Logo apresentou e dirigiu nessa cidade, um programa para a TV Manchete e em breve, apresentava outro na Rede Globo de Natal. Nunca ninguém, nem a família, nem os amigos, souberam o que Luciana fazia exatamente.
Dizem que ela começou a ganhar dinheiro mesmo dirigindo campanhas publicitárias para a Dumbo. Em 1992 estagiava na Rede Globo, com Marcelo Travesso e Jorge Fernando. Era um Deus no Acuda! Ou melhor, esse era o nome da novela onde ganhou o estágio. A partir daí, nunca mais parou: comandou em Fortaleza um programa ao vivo de três horas de duração, na Band. Sem sinal de cansaço na telinha, obtinha um resultado surpreendente: se a rival loira Xuxa dominava o país, em Fortaleza, quem vencia era Luciana, com audiência três vezes maior que o Xuxa Park.
Percebendo o incômodo que a acelerada garota causava, o então presidente da Rede Bandeirantes de Televisão, João Jorge Saad a chamou para uma reunião e logo Luciana estreou em rede nacional no Brasil Verdade. Tudo ao mesmo tempo em que comandava o programa interno do Boticário para os tupiniquins e lusitanos, e comerciais para JVC, Mac Donalds... Houve até participação – como atriz - em novelas globais, a já citada Deus Nos Acuda e outra em Cara e Coroa.
Mas Luciana não é rainha, nunca gostou dessa ostentação de coroa. Dava as caras onde podia. Convergência de tempo é um de seus maiores dons. Não se sabe como, mas simultaneamente tocava peças publicitárias em Natal e São Luis do Maranhão. E se fazia disputada por TVs regionais como a Globo Oeste Paulista, em Presidente Prudente. Parece confuso, mas sua carreira é singular. Em alguns momentos foi estrela de primeira grandeza. Parecia saber falar ao público certo, de forma localizada. Há até uma capa da Revista Caras para provar tal fama. Gianca Civitta, do Grupo Abril sonhou com ela na telinha da MTV. Ela preferiu ir à Londres, onde ganhou – digo ganhou porque não implorou – um estágio na BBC.
Voltou em 1998, substituiu Ciça Guimarães numa campanha publicitária soteropolitana e acabou na Band Bahia. Foi um estouro, um sucesso O 7+7, o programa para jovens que a fez ser amada. A Band, que mantinha naquela altura um canal alternativo em São Paulo, o 21, apostava suas fichas no UHF. Ela se mudou para a metrópole e estrelou com sucesso um programa elogiado: o Calçadão. Até parecia paulistana. Ou melhor, encontrou em São Paulo o palco perfeito para mostrar uma cidade que reúne todos e tudo. Simultaneamente (novidade!) trabalhava para a Rede Bahia e implementava a TV Salvador. Há outro trabalhos aqui, mas seria melhor um currículo ser anexado a este artigo. Na TV Salvador ganhou um programa chamado Luciana em Quadrinhos, enquanto estrelava campanhas para públicos distintos, do Aeroclube ao refinado Shopping Iguatemi de Salvador.
O projeto mais ousado viria em seguida. Criou o Oi Folia para a Band, o início de uma parceria com a rede de telefonia Oi. Disto nasceu o Oi Brasil, um programa que mostrava um Brasil que dava certo. Mérito dela também incluir seus amigos ao projeto e buscar pessoalmente os patrocinadores: Oi, Siemens, Tam, Ford, Mitisubish, para citar alguns. Entre entrevistas com Oscar Niemeyer e gente comum do sertão, o programa, no ar nas manhãs da Band no início dos anos 2000, custou 4 milhões de reais e se tornou um case de sucesso. Além de exemplo elogiado pela mídia como um oásis numa programação dominada por sensacionalismo. Detalhe: a audiência era ótima.
O tempo passou. E Luciana sofreu um acidente em 2005. Como noticiado, despencou de um ônibus. Levou quase seis meses para andar. Como o jornalista que escreve aqui acredita que esta história seja irrelevante para este, peço ao leitor que busque esse fato no Google. Você certamente encontrará as notícias sobre Luciana e o "acidente que a deixaria paraplégica". Não ficou, que fique claro. Foram incontáveis cirurgias, enquanto (surpresa!) gravou debilitada comerciais publicitários na Bahia. Isso a ajudou a recuperar a vontade de viver. Vontade de viver, no entanto, parece uma metonímia. Entrevistar Luciana ou pesquisar sua vida é notar que ela sempre viveu plenamente. Ponto.
Em 2007, conquistou seu mais estranho ano. Um período sabático. Viajou, se renovou, e repensou o sentido da vida. Relevante é dizer que em 2008, ao retornar, já foi para uma rede de televisão nordestina. Desta vez como Diretora de Conteúdo. Pediu demissão por ética. E a convite de Boninho, apresentou um quadro no Mais Você, de Ana Maria Braga. O "Mais Brasil" obviamente apresentava o Brasil para o Brasil. Em 2010 perdeu o pai, cuidou da família, e passou a escrever para tantos lugares que talvez o número 21 blogs seja subestimado.
O mote dessa matéria portanto, chega a uma solução: comunicadora inquieta, aquariana, curiosa, sonhadora, diretora competente, ela naturalmente se voltou ao cinema. O encontro recente – ou redescoberta – com a sétima arte a fizeram dirigir um curta metragem, com Marcio Del Picchia. Isso sem falar nos VTs publicitários, inclusive para a governadora Rosalba Ciarlini. Os planos são como ela: inúmeros. Sócia de uma produtora, finaliza ainda seu primeiro filme na Quanta em São Paulo, além de pré produzir outro com sua dupla para o final deste ano.
Sincera e batalhadora seriam palavras banais. Talento é um resumo simplista. Indescritível. Assim é Luciana Dias
*Antonio Trigo é jornalista formado pela Fundação Cásper Libero, colaborador das revistas RG, Bazaar Brasil, Moda por Joyce Pascowitch e Wish Casa. Já trabalhou nas revistas Vogue, Homem Vogue e colaborou para Joyce Pascowitch, FFWMag!, Simples, L’Officiel, Jornal da C&A, Audi e Revista do Iguatemi. Também foi gerente da marketing da grife italiana Diesel no Brasil e tem texto publicado no livro da editora americana Phaidon, "Sample (100 Fashion Designers – 010 Curators)", sobre a moda brasileira.
por Antonio Trigo*
Há certa dificuldade em descrever um personagem tão único – e raro – quanto Luciana Dias. Se o tipo físico entrega que ela é brasileira, ou curitibana, para dar exatidão ao local de seu nascimento, o termo "cidadã do mundo" lhe cai como uma luva.
Quem dirá aonde essa garota – sim, a alma é de menina – que já morou em Salvador, Chapada Diamantina, Londres, São Paulo, Rio de Janeiro, João Pessoa e Firenze estará amanhã. Em casa mesmo, talvez só se sinta em Pipa, um dos poucos lugares onde jura, consegue se desconectar.
A ascendência mostra que a família tem poetas, políticos, empresários e músicos. O que naturalmente lhe daria a autenticidade de quem cresceu contextualizada, entre livros, viagens e arte. Ela estudou fotografia, e como contraponto, quem diria, já tomou aulas de balé. Mas os pezinhos exigentes ganharam bagagem quando foi além da dança renascentista, e descobriu 19 países e todo esse multiculturalismo chamado Brasil. Tendo esses pontos explicados, podemos então olhar outrora, e tentar resumir uma carreira marcada de escolhas inusitadas, um talento nato à comunicação e outros papéis que sempre desempenhou com paixão.
A infância foi feliz, com todos os motes de quem teve a liberdade de escolha como opção. Fato é que ainda debutante não pediu um baile, mas começou a trabalhar escondido dos pais. Precocemente, fez até exposições, com obras selecionadas para mostras relevantes. Quando a faculdade de Comunicação Social engatinhava (sem a distinção entre publicidade e jornalismo) a cursou. E desde então, sempre foi bipolar, no bom sentido. Afinal, é pauteira e marketeira. Tem conteúdo e visão ampla.
O olhar apurado, muitas vezes incompreendido e natural à humanos da contracultura a levaram muito cedo para a Paraíba, onde aos 19 anos ganhou seu primeiro programa televiso na TV Tambaú. Uma revista cultural inovadora para os padrões daquela época. Em paralelo também trabalhava numa agência de propaganda, a Mozart, em João pessoa. Logo apresentou e dirigiu nessa cidade, um programa para a TV Manchete e em breve, apresentava outro na Rede Globo de Natal. Nunca ninguém, nem a família, nem os amigos, souberam o que Luciana fazia exatamente.
Dizem que ela começou a ganhar dinheiro mesmo dirigindo campanhas publicitárias para a Dumbo. Em 1992 estagiava na Rede Globo, com Marcelo Travesso e Jorge Fernando. Era um Deus no Acuda! Ou melhor, esse era o nome da novela onde ganhou o estágio. A partir daí, nunca mais parou: comandou em Fortaleza um programa ao vivo de três horas de duração, na Band. Sem sinal de cansaço na telinha, obtinha um resultado surpreendente: se a rival loira Xuxa dominava o país, em Fortaleza, quem vencia era Luciana, com audiência três vezes maior que o Xuxa Park.
Percebendo o incômodo que a acelerada garota causava, o então presidente da Rede Bandeirantes de Televisão, João Jorge Saad a chamou para uma reunião e logo Luciana estreou em rede nacional no Brasil Verdade. Tudo ao mesmo tempo em que comandava o programa interno do Boticário para os tupiniquins e lusitanos, e comerciais para JVC, Mac Donalds... Houve até participação – como atriz - em novelas globais, a já citada Deus Nos Acuda e outra em Cara e Coroa.
Mas Luciana não é rainha, nunca gostou dessa ostentação de coroa. Dava as caras onde podia. Convergência de tempo é um de seus maiores dons. Não se sabe como, mas simultaneamente tocava peças publicitárias em Natal e São Luis do Maranhão. E se fazia disputada por TVs regionais como a Globo Oeste Paulista, em Presidente Prudente. Parece confuso, mas sua carreira é singular. Em alguns momentos foi estrela de primeira grandeza. Parecia saber falar ao público certo, de forma localizada. Há até uma capa da Revista Caras para provar tal fama. Gianca Civitta, do Grupo Abril sonhou com ela na telinha da MTV. Ela preferiu ir à Londres, onde ganhou – digo ganhou porque não implorou – um estágio na BBC.
Voltou em 1998, substituiu Ciça Guimarães numa campanha publicitária soteropolitana e acabou na Band Bahia. Foi um estouro, um sucesso O 7+7, o programa para jovens que a fez ser amada. A Band, que mantinha naquela altura um canal alternativo em São Paulo, o 21, apostava suas fichas no UHF. Ela se mudou para a metrópole e estrelou com sucesso um programa elogiado: o Calçadão. Até parecia paulistana. Ou melhor, encontrou em São Paulo o palco perfeito para mostrar uma cidade que reúne todos e tudo. Simultaneamente (novidade!) trabalhava para a Rede Bahia e implementava a TV Salvador. Há outro trabalhos aqui, mas seria melhor um currículo ser anexado a este artigo. Na TV Salvador ganhou um programa chamado Luciana em Quadrinhos, enquanto estrelava campanhas para públicos distintos, do Aeroclube ao refinado Shopping Iguatemi de Salvador.
O projeto mais ousado viria em seguida. Criou o Oi Folia para a Band, o início de uma parceria com a rede de telefonia Oi. Disto nasceu o Oi Brasil, um programa que mostrava um Brasil que dava certo. Mérito dela também incluir seus amigos ao projeto e buscar pessoalmente os patrocinadores: Oi, Siemens, Tam, Ford, Mitisubish, para citar alguns. Entre entrevistas com Oscar Niemeyer e gente comum do sertão, o programa, no ar nas manhãs da Band no início dos anos 2000, custou 4 milhões de reais e se tornou um case de sucesso. Além de exemplo elogiado pela mídia como um oásis numa programação dominada por sensacionalismo. Detalhe: a audiência era ótima.
O tempo passou. E Luciana sofreu um acidente em 2005. Como noticiado, despencou de um ônibus. Levou quase seis meses para andar. Como o jornalista que escreve aqui acredita que esta história seja irrelevante para este, peço ao leitor que busque esse fato no Google. Você certamente encontrará as notícias sobre Luciana e o "acidente que a deixaria paraplégica". Não ficou, que fique claro. Foram incontáveis cirurgias, enquanto (surpresa!) gravou debilitada comerciais publicitários na Bahia. Isso a ajudou a recuperar a vontade de viver. Vontade de viver, no entanto, parece uma metonímia. Entrevistar Luciana ou pesquisar sua vida é notar que ela sempre viveu plenamente. Ponto.
Em 2007, conquistou seu mais estranho ano. Um período sabático. Viajou, se renovou, e repensou o sentido da vida. Relevante é dizer que em 2008, ao retornar, já foi para uma rede de televisão nordestina. Desta vez como Diretora de Conteúdo. Pediu demissão por ética. E a convite de Boninho, apresentou um quadro no Mais Você, de Ana Maria Braga. O "Mais Brasil" obviamente apresentava o Brasil para o Brasil. Em 2010 perdeu o pai, cuidou da família, e passou a escrever para tantos lugares que talvez o número 21 blogs seja subestimado.
O mote dessa matéria portanto, chega a uma solução: comunicadora inquieta, aquariana, curiosa, sonhadora, diretora competente, ela naturalmente se voltou ao cinema. O encontro recente – ou redescoberta – com a sétima arte a fizeram dirigir um curta metragem, com Marcio Del Picchia. Isso sem falar nos VTs publicitários, inclusive para a governadora Rosalba Ciarlini. Os planos são como ela: inúmeros. Sócia de uma produtora, finaliza ainda seu primeiro filme na Quanta em São Paulo, além de pré produzir outro com sua dupla para o final deste ano.
Sincera e batalhadora seriam palavras banais. Talento é um resumo simplista. Indescritível. Assim é Luciana Dias
*Antonio Trigo é jornalista formado pela Fundação Cásper Libero, colaborador das revistas RG, Bazaar Brasil, Moda por Joyce Pascowitch e Wish Casa. Já trabalhou nas revistas Vogue, Homem Vogue e colaborou para Joyce Pascowitch, FFWMag!, Simples, L’Officiel, Jornal da C&A, Audi e Revista do Iguatemi. Também foi gerente da marketing da grife italiana Diesel no Brasil e tem texto publicado no livro da editora americana Phaidon, "Sample (100 Fashion Designers – 010 Curators)", sobre a moda brasileira.