15 de nov. de 2010

Os antigos habitantes da Ilha de Marajó


Os primeiros ocupantes da ilha de Marajó viviam da coleta de moluscos e outros recursos aquáticos, o que acabou gerando montes de conchas chamados de "sambaquis".

São conhecidos três sambaquis, ainda não estudados: um no município de Curralinho, ao sul da ilha e outros dois no município de Cachoeira do Arari.

Por comparação a sítios arqueológicos como esses estudados na costa leste do Pará, estima-se que os primeiros habitantes tenham chegado na ilha há 5 mil anos.
Depois disso, grupos horticultores ceramistas chegaram do norte, há 3.500 anos.

Em 1948 e 1949 os arqueólogos americanos Betty Meggers e Clifford Evans
estudaram a cerâmica fabricada por esses grupos e definiram as fases arqueológicas Ananatuba, Mangueiras, Formiga e Acauã.
Esses povos viviam em aldeias pequenas de algumas dezenas de pessoas, produziam ainda trançados e tecidos, e iniciaram o manejo de plantas como o abacaxi, algodão e arroz, encontrados atualmente em sua forma selvagem em algumas regiões da ilha.
Meggers e Evans também estudaram ocupações mais recentes, como as fases Marajoara (anos 400 a 1350)
e Aruã (anos 1300 a 1650).
É importante enfatizar que, com exceção da fase Aruã, que é o correspondente arqueológico dos grupos Arawak que invadiram a ilha a partir do Amapá por volta do século 14, o nome "fase" usado pelos arqueólogos designa apenas a tecnologia da cerâmica e não um grupo étnico ou linguístico.
Já a cultura Marajoara surgiu por volta de 400 depois de Cristo, e em 300 anos espalhou-se pela área de campos da metade nordeste da ilha.
Esses povos destacaram-se pela construção de plataformas de terra de até 12 metros de altura e 2 hectares em área, e manejavam recursos aquáticos, construindo também barragens e escavando lagos artificiais.

Quando Meggers e Evens pesquisaram alguns desses sítios compostos por "tesos" verificaram que, em cada grupo, havia um ou dois tesos que continham urnas funerárias e uma cerâmica ricamente decorada, enquanto que a maioria só apresentava cerâmica utilitária.


Sugeriram então que os tesos cumpririam diferentes funções, sendo alguns para cemitério e outros para habitação. As diferenças no tratamento dado aos mortos, o trabalho envolvido na construção dos tesos e o requinte do trabalho na cerâmica indicava que aquela era uma sociedade hierárquica, com um sistema, político e religioso complexo. No entanto, Meggers e Evans não acreditavam que na Amazônia poderiam desenvolver-se sociedades assim, e por isso sugeriram que os marajoaras teriam imigrado de áreas mais desenvolvidas a oeste da cordilheira dos Andes. Na década de 1980, outra arqueóloga americana, Anna Roosevelt,
pesquisando os tesos Guajará, no alto rio Anajás, e o sítio Teso dos Bichos, no município de Cachoeira do Arari, demonstrou que os tesos-cemitério também possuíam estruturas domesticas; portanto seriam tesos cerimoniais da elite, que ali morava e enterrava seus familiares.


Roosevelt também descobriu que os marajoaras alimentavam-se principalmente de produtos provenientes de caça, pesca e coleta, especialmente tartarugas, peixes (utilizando a técnica de envenenamento de lagos), frutos e castanhas.



Assim como Roosevelt, a arqueóloga brasileira Denise Schaan,
trabalhando na área desde 1998, acredita em uma origem local dos povos marajoaras, que se desenvolveram aprendendo a manejar a ecologia da ilha. Ao longo de 10 km às margens do igarapé dos Camutins, cerca de duas mil pessoas aldeadas em 34 tesos construíram lagos e barragens, explorando de maneira intensiva os recursos aquáticos; além disso fabricavam tecidos, trançados, belos objetos em osso, madeira e cerâmica, e realizavam trocas com povos distantes, de onde obtinham machados e adornos feitos de pedras inexistentes na ilha. Os mortos ilustres eram tratados com grande pompa, sepultados após um ritual de descarnificação, limpeza e pintura vermelha dos ossos, dispostos em grandes urnas funerárias decoradas com emblemas de sua linhagem e espíritos protetores. As urnas, cobertas por uma tampa e guarnecidas com oferendas e objetos pessoais eram mantidas semi-enterradas dentro de um templo. As mulheres da elite usavam tangas de cerâmica, com motivos decorativos que informavam sobre seu status social. Cacicados como o dos Camutins multiplicaram-se pelos campos alagados, competindo por prestígio e poder. Estas sociedades entraram em colapso a partir do século 14, provavelmente tanto por causa da invasão Aruã quanto por mudanças climáticas que teriam afetado sua economia. Depois disso, a população remanescente retomou a vida em pequenas aldeias, sendo assim encontradas pelos europeus no século 17.


texto de marcio couto

mais informações:
www.antropologiaenbabilonia.blogspot.com
www.scielo.br
www.uic.edu
www.mnsu.edu
www.marajoara.com

2 comentários:

Salve salve!!
Se é de paz, pode chegar!!!